Nove empresas de apostas foram processadas em 1,5 bilhão por facilitar acesso de menores

Júlia Moura October 16, 2024
Nove empresas de apostas foram processadas em 1,5 bilhão por facilitar acesso de menores

A Educafro, em parceria com o Centro de Defesa de Direitos Humanos Padre Ezequiel Ramin, entrou com ações judiciais contra nove empresas de apostas esportivas, acusando de facilitar o acesso de menores de idade – crianças e adolescentes – às plataformas de apostas. A ação, que tramita na Justiça de São Paulo, pede uma indenização de R$ 1,5 bilhão por danos morais coletivos e solicita compensações individuais para cada menor de idade afetado.  De acordo com a Educafro, essas plataformas não implementam mecanismos eficazes de controle, como biometria ou reconhecimento facial, para restringir o acesso de menores de 18 anos. A entidade argumenta que o simples uso de um CPF adulto, independentemente do consentimento ou conhecimento do titular, é suficiente para que crianças e adolescentes acessem não apenas apostas esportivas, mas também jogos de cassino e roleta, elevando o risco de vício.  As empresas processadas incluem plataformas conhecidas como PixBet, FlaBet, Bet da Sorte (da Pixbet Soluções Tecnológicas), Bet Nacional, Mr. Jack Bet, PagBet (da NSX Enterprise), e SuperBet, MagicJackpot, e LuckyDays (da Superbet Brasil). A FlaBet, que opera como a plataforma oficial de apostas do Flamengo, está entre as citadas na ação, entre outras que também patrocinam clubes de futebol.  O Ministério da Fazenda já havia autorizado essas empresas a operar no Brasil, mas as novas regulamentações impostas pela Portaria SPA/MF nº 1.231/2024 buscam coibir práticas abusivas. Dentre essas regras, está a proibição de propagandas que sugiram ganhos fáceis, que utilizem influenciadores para atrair jogadores, ou que associem o jogo ao sucesso pessoal e social, especialmente se direcionadas a menores de idade. Ainda assim, muitos especialistas apontam que as medidas atuais não são suficientes para impedir o acesso de menores de idade às apostas, devido à falta de fiscalização mais rigorosa por parte das autoridades. 

O governo Lula também está preocupado com o uso dos recursos do Bolsa Família para jogos de azar. Um estudo do Banco Central revelou que, em agosto de 2024, cerca de 5 milhões de beneficiários do programa gastaram aproximadamente R$ 3 bilhões em apostas. Isso mostra a vulnerabilidade econômica dessas famílias, que buscam alternativas rápidas para melhorar suas condições financeiras, mas acabam se endividando ainda mais. 

A ausência de regulação mais eficaz tem gerado debates sobre a responsabilidade das empresas de apostas no Brasil. A nova legislação aprovada em 2023, Lei 14.790, tenta regularizar esse setor, mas críticas apontam que o lobby das empresas continua influenciando as decisões governamentais, o que prejudica a implementação de políticas públicas efetivas. Estudos também indicam que cerca de 46% dos jogadores de apostas esportivas online no Brasil têm entre 19 e 29 anos, e muitos estão endividados, deixando evidente a relação entre desigualdade social e o vício em jogos. 

Com essas ações judiciais é esperado que haja uma revisão das práticas das plataformas de apostas, com a implementação de mecanismos mais eficazes de proteção aos jovens e à população vulnerável. 
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