A autorregulação dos jogos de azar no futebol da Premier League está falhando?

Um relatório, liderado por uma equipe da Universidade de Bristol e financiado pela organização beneficente Gamble Aware, revelou que quase 30.000 mensagens relacionadas a jogos de azar apareceram em diversos canais – um aumento significativo de 16% em relação às 10.999 registradas no mesmo fim de semana de abertura no ano passado. Durante o fim de semana de abertura da Premier League inglesa, de 16 a 19 de agosto de 2024, o número de anúncios de apostas exibidos triplicou em comparação com o fim de semana de abertura da temporada 2023-24. O relatório coletou estatísticas a partir de transmissões ao vivo de seis partidas da Premier League, 15 horas de cobertura do Sky Sports News, 15 horas de transmissões de rádio da TalkSport, além de anúncios relacionados a jogos de azar postados no X (anteriormente conhecido como Twitter), Facebook e Instagram.

Dados perturbadores

O relatório definiu “mensagens” relacionadas a jogos de azar como anúncios ou logotipos de empresas de apostas que aparecem durante as transmissões ao vivo dos jogos. Com relação aos seis jogos ao vivo da Premier League, o estudo registrou um aumento de 240% no número de mensagens de apostas, chegando a 23.690, em comparação com 6.966 no ano passado. Somente no jogo West Ham contra Aston Villa, a pesquisa contou quase 30 mensagens de apostas por minuto, totalizando 6.491. Os patrocínios, principalmente da bet365, representaram 42,7% de todas as mensagens. As placas eletrônicas ao lado do campo foram responsáveis por 25,1% de todas as mensagens, cobrindo toda a extensão dos painéis publicitários.

A bet365 assinou um contrato de três anos com a Champions League masculina a partir da temporada 2024-25. Trabalhando em conjunto com a UEFA, a bet365 aumentará sua visibilidade em painéis de mídia, nas placas eletrônicas ao redor dos campos e em outros LEDs, além de nos canais digitais oficiais da UEFA. Em parceria, a bet365 e a UEFA também oferecerão aos fãs a chance de ganhar ingressos gratuitos para jogos.

A TNT Sports e o Ipswich Town preveem uma alta audiência na TV e um estádio cheio para o jogo de abertura contra o Liverpool. Este jogo teve 44% de mensagens publicitárias completas relacionadas a jogos de azar, em comparação com 51,6% de mensagens estáticas ao lado do campo no jogo West Ham contra Aston Villa. Preocupantemente, apenas 28,5% das mensagens incluíam informações sobre jogo responsável, e apenas 8,7% mencionavam a idade mínima legal para apostar. A bet365 foi responsável por 48,5% das mensagens na amostra.

Preocupações com as redes sociais

O relatório descobriu que muitos dos anúncios de jogos de azar nas redes sociais não eram identificáveis como publicidade, violando as regulamentações publicitárias, segundo os pesquisadores. Quase três quartos (74%) da amostra não eram claramente identificados. Segundo os dados, os anúncios de apostas nas redes sociais receberam mais de 24 milhões de visualizações, e, em alguns casos, incluíam jogadores da Premier League.

Duas faces da moeda

Dr. Raffaello Rossi, coautor do relatório ao lado do Dr. Jamie Wheaton, afirmou: “Esta nova evidência mostra o quanto a indústria está fora de controle – com os anúncios de jogos de azar agora inundando a cobertura da Premier League.” Há apenas alguns meses, foi publicado um novo código de conduta pela indústria para restringir o marketing durante os eventos de futebol, mas a política não teve nenhum impacto no volume de anúncios. Está claro que a tentativa da indústria de se autorregular é totalmente inadequada e simbólica. Isso vai além de uma falha política – é uma falha em proteger o público, e o problema tem se proliferado sem controle. Devemos parar de confiar em uma autorregulação ineficaz, que foi projetada para falhar, e usar a legislação existente para restringir a publicidade de jogos de azar, como fazem a maioria dos nossos países europeus vizinhos. Apesar de terem tido anos para implementar medidas eficazes de proteção ao consumidor, a indústria de jogos de azar continua priorizando o lucro em detrimento da segurança.” Wheaton acrescentou: “Nossa pesquisa destaca a necessidade de o governo intervir e ir além das medidas voluntárias da indústria, para garantir plenamente que crianças e jovens estejam protegidos.”

O Conselho de Apostas e Jogos (BGT) respondeu que seus membros “adotam uma abordagem de tolerância zero em relação às apostas por crianças.” O BGT também afirmou que destina 20% da publicidade na TV, rádio e digital a iniciativas de jogo mais seguro.

Um porta-voz do BGT acrescentou: “Esta pesquisa entende fundamentalmente mal tanto a publicidade quanto a maneira como ela é estritamente regulamentada, além de fazer uma série de afirmações que são enganosas ou incorretas. A publicidade e o patrocínio de apostas devem seguir diretrizes rigorosas, e ferramentas de jogo responsável, bem como orientações de ajuda para quem tem preocupações com apostas, são regularmente e de forma destacada exibidas.”

Quais medidas estão sendo tomadas para proteger os apostadores?

Em 13 de abril de 2024, os clubes da Premier League confirmaram que estavam cooperando com as autoridades e trabalhando com outros esportes para desenvolver um novo código de conduta para o patrocínio responsável de jogos de azar. A partir da temporada 2026/2027, as empresas de apostas não poderão patrocinar a frente das camisas dos dias de jogos. A proibição “Whistle to Whistle”, introduzida pelo Grupo da Indústria para Jogo Responsável (IGRG), impede que anúncios de jogos de azar sejam exibidos cinco minutos antes e depois dos jogos transmitidos antes das 21h. O BGC afirma que isso já resultou em uma redução de 97% no número de anúncios vistos por crianças.

A lei de publicidade de jogos de azar no Reino Unido

Atualmente, a Lei de Jogos de Azar de 2005 rege a maior parte da legislação de publicidade de jogos de azar no Reino Unido. Esta legislação exige que o Ofcom estabeleça, revise e atualize os padrões para anúncios de jogos de azar na televisão e no rádio. No entanto, a responsabilidade principal pela regulamentação da publicidade em transmissões recai sobre a Autoridade de Padrões Publicitários (ASA). A ASA monitora anúncios em várias plataformas de mídia. Se um anúncio violar as regras, a ASA pode exigir sua remoção ou alteração. A ASA também tem o poder de impor sanções, como proibir o anunciante de veicular o anúncio novamente. A Comissão de Jogos de Azar (GC) supervisiona o licenciamento e a regulamentação dos operadores de jogos de azar. Eles garantem que os operadores sigam os códigos de publicidade. Se um operador não cumprir esses padrões, a GC pode impor multas, suspender ou revogar licenças. O público também pode relatar anúncios de jogos de azar enganosos ou irresponsáveis à ASA. As regulamentações exigem que o conteúdo, o estilo e o posicionamento dos anúncios não tenham como alvo menores de 18 anos ou outros grupos vulneráveis. Os anúncios não devem sugerir que o jogo pode resolver problemas financeiros e não devem enganar as pessoas sobre as chances de ganhar ou os riscos envolvidos. Anúncios de jogos de azar online devem usar ferramentas de segmentação por idade para que menores de 18 anos não os vejam e devem ser claros em seus termos e condições, incluindo ofertas promocionais.

E agora?

Após a publicação do relatório da Universidade de Bristol, um porta-voz do governo afirmou: “Reconhecemos o impacto que o jogo prejudicial pode ter sobre os indivíduos e suas famílias e estamos absolutamente comprometidos em fortalecer as proteções para aqueles em risco. Os ministros estão atualmente considerando toda a gama de políticas de jogos de azar, incluindo publicidade e patrocínio, e irão atualizar as medidas em breve.” O relatório pede intervenção do governo por meio de uma legislação adicional para alinhar o Reino Unido com outros países europeus. Você pode encontrar o relatório clicando .

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